Três horas da manhã, no governo do general Figueiredo, toca o telefone em casa de Tancredo Neves. Era Gustavo Capanema, de Brasília: - Olhe, Tancredo, estou acordando você porque estou com um problema e não consigo dormir. Talvez você tenha uma ideia mais clara. Fui chamado hoje à tarde ao Palácio do Planalto e, durante três horas, discuti o projeto do voto distrital com o ministro Leitão de Abreu. Ele estava muito interessado nos meus estudos e acha que o distrital pode ser um bom instrumento para aperfeiçoar a representação política no Congresso.
- Muita gente acha também, Capanema. Embora eu seja contra, reconheço que o assunto é importante e precisa ser discutido. Só não entendo é por que você não consegue dormir. Os estudos são seus, o projeto é seu, você a favor. Quando o governo parece querer, você fica sem dormir?
- Pois é, Tancredo. Não consigo dormir. O ministro me deu pressa, muita pressa, para concluir os estudos.
- Ah, Capanema, ele deu pressa, deu? Então deve haver mais coisas.
- Você também acha? Ótimo que você também ache. Agora vou dormir. Desligou o telefone e dormiu.
Tancredo
Clovis Rossi e Osvaldo Martins, jornalistas da sucursal do "Jornal do Brasil" em Brasília, foram conversar com Tancredo Neves, no governo do general Geisel. Passaram horas dissecando as angústias nacionais. De repente, chega o jornalista Tarcisio Holanda com a nota do ministro do Exército, general Silvio Frota, contra a imprensa. Tancredo pega a nota, lê longamente, parando em cada frase, franzindo a testa. Rossi e Martins estavam curiosos para lerem também. Tancredo se oferece:
- Querem que eu leia em voz alta?
- Ótimo, deputado.
E Tancredo, pausadamente, a voz forte de poderoso orador político, lê a nota inteira. Os quatro ficam algum tempo em silêncio, ruminando a gravidade do assunto. Clovis Rossi fala:
- Deputado, agora uma declaração do senhor.
- Declaração sobre o quê?
- Sobre a nota do ministro Silvio Frota.
- Que nota? Nem li.
Aécio
O Aécio Neves, por ser o neto predileto, está querendo ser presidente da República como uma reencarnação de Tancredo: dizendo sem falar e falando sem dizer. Mas esquece uma diferença fundamental. Na época em que Tancredo, com todo seu talento, costurou sua candidatura a presidente, o País vivia numa ditadura militar, já nos estertores, mas ainda ditadura. As conversas tinham que ser assim mesmo: discretas, sinuosas, dissimuladas.
Mas, 25 anos depois, o País vivendo em plena democracia, precisando de um debate nacional aberto sobre seu presente e seu futuro, e o governador Aécio Neves sai na capa da segunda maior revista nacional, a "IstoÉ" desta semana, com uma entrevista "Exclusiva" (a Sergio Pardellas e Otavio Costa), na qual só consegue produzir duas frases:
1 - "Sou uma alternativa para o País".
Mas não diz por quê. Será porque é cabeludo e José Serra careca? Se tem um projeto diferente do de Serra, que está faltando à Nação, diga logo.
2 - "Quero prévias no PSDB porque precisamos de uma agenda nova".
Mas não diz que agenda, com que projetos, programas e propostas. Ou seria uma agenda de bolso? Talvez de mesa? Quem sabe a agenda não seria banho de mar no Posto 9 de manhã e jantar nas Mangabeiras à noite?
JK
Daqueles mesmos palácios que Aécio ocupa hoje (Liberdade e Mangabeiras), Juscelino saiu em 1955 com uma bandeira nacional, o desenvolvimento, e um plano de metas objetivo, concreto, de 30 pontos (Brasília foi o 31, a metassíntese) que empolgaram a Nação e ele cumpriu.
Querer ser presidente em 2010 na base da conversa esperta sem ditadura, agradando governo e oposição, bajulando Lula e Fernando Henrique, Dilma e Serra, é uma traição a Tancredo, a Minas e ao País.
Pimentel
Aliás, Minas, que já foi tão boa nisso, desde a Inconfidência e o Manifesto dos Mineiros, anda muito ruim de proclamações e entrevistas. Dias atrás, o ex-prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, um rapaz de bela biografia, experiente, conseguiu encher três páginas amarelas da "Veja" sem dizer absolutamente nada. Uma dolorosa esterilidade.
A única coisa que deu para perceber, da "entrevista" dele, é que ele vai disputar ser o mordomo da Dilma. Se ainda fosse ser o José Dirceu dela, podia entusiasmar o PT com a chegada de um novo Mensalão.
Cabral
Sarney, Michel Temer, Henrique Eduardo Alves e suas turmas no Senado e na Câmara ficaram furiosos com a declaração de Sergio Cabral ao "Globo", sobre as críticas de Jarbas Vasconcelos ao PMDB: "Generalizar é uma desconsideração. Eu não sou corrupto, Pedro Simon não é, Paulo Hartung não é, Roberto Requião não é, Marcelo Miranda não é, Luiz Henrique não é. Essa generalização é desrespeitosa".
Sarney, Michel, Henrique - o Cabral não livrou a cara de nenhum deles.
Sarney
E Sarney confessa seu tamainho: "Não falo para não diminuir o debate".
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