quinta-feira, 11 de março de 2010

Depois do ‘Lulécio’, nasce em Minas o voto ‘Dilmasia’

Nas eleições de 2006, um grupo de prefeitos mineiros recomendou aos eleitores de seus municípios a adoção do voto “Lulécio”.



Para a Presidência, a reeleição do petista Lula. Para o governo de Minas, a recondução do tucano Aécio Neves.



Para o pleito de 2010, o mesmo grupo de gestores municipais trama a reedição do fenômeno, agora rebatizado de voto “Dilmasia”.



Para o lugar de Lula, a preferida do presidente, Dilma Rousseff. Para a cadeira de Aécio, o apadrinhado do governador, Antonio Anastasia.



Deve-se à repórter Patrícia Aranha a detecção da mistura eleitoral que começa a ferver no caldeirão de Minas.



A sugestão de acidez estomacal que emerge do novo vocábulo não é gratuita. O candidato à azia é o grão-tucano José Serra.



"Não temos que engolir o Serra”, diz José Antonio Prates (PTB), prefeito do município mineiro de Salinas, famoso pela boa cachaça que produz.



“Com a indisposição causada pela candidatura do Serra, a Dilmasia vai ser maior ainda", José Antonio ironiza.



Em 2006, o prefeito era filiado ao PT. Foi expulso da legenda justamente por ter comandado o lançamento do voto Lulécio.



Hoje, José Antonio sente-se à vontade para inaugurar a onda “Dilmasia”. É um “apelo das bases”, justifica.



Segundo ele, o eleitor mineiro estaria frustrado por ter sido privado da oportunidade de votar em Aécio para presidente da República.



Antevê problemas para o preferido do tucanato: "O Serra vai levar uma surra em Minas, que vai decidir novamente a eleição presidencial".



O prefeito rememora 2006. Lembra que, em 27 de março daquele ano, 19 prefeitos do PT foram ao Palácio das Mangabeiras, a residência oficial do governador.



Entregaram a Aécio Neves um manifesto de apoio à reeleição dele. Depois, o movimento disseminou-se, contagiando políticos de outras legendas.



José Antonio estima que, em 2010, vários prefeitos do PT vão surfar na onda “Dilmasia”. Além deles, gente do PDT, PV, PSB, PTB e PP.



São legendas que, em Brasília, gravitam em torno do governo Lula. E, em Minas, orbitam ao redor da gestão Aécio.



Por que tamanha adesão? José Antonio alega que os prefeitos foram muito bem tratados tanto por Lula quanto por Aécio.



“Dilmasia”, diz ele, é mero chiste. Dá-se, na prática, uma ressureição do “Lulécio”. O grupo deseja, a propósito, trabalhar também pela candidatura de Aécio ao Senado.



"O movimento já está articulado”, diz o prefeito. “Tende a crescer. Só estamos esperando a oficialização das candidaturas”.



Em 2006, o movimento pelo voto misto rendeu a Aécio a pecha de traidor. Dizia-se que fazia corpo mole, evitando suar a camisa por Geraldo Alckmin, o Serra de então.



Lula divertia-se com o Lulécio. Guindado pelas urnas ao segundo turno, o tucano Alckmin teve, em Minas, menos votos do que amealhara no primeiro round.



Excluído da disputa presidencial de 2010, Aécio jura que vai arregaçar as mangas por Serra. Mas sempre se poderá alegar que a “Dilmasia” é moléstia sem remédio.



Como recusar o agrado de prefeitos que, simpáticos a Dilma, se dispõem a pedir votos também para Anastasia e, melhor, para o próprio Aécio?



Ouça-se mais um pouco de José Antonio, o ex-petista de Salinas, hoje um prefeito abrigado sob o guarda-chuva do PTB:



"Sou da tribo dos utopistas, que imaginou um Brasil acima dos projetos individuais...”



“...Cheguei a pensar, no ano passado, que Dilma e Aécio pudessem estar juntos numa chapa, já que não defendem um projeto antagônico de nação...”



“...Mas como no Brasil só há projetos de poder, PSDB e PT pensam diferente de mim, o que não obriga os prefeitos a se subordinarem a essa lógica".



Conhecido pela fama de hipocondríaco, José Serra, o “quase-talvez-provável-futuro” presidenciável do PSDB, talvez tenha de reforçar o estoque de antiácidos.

Escrito por Josias de Souza às 05h48

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