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domingo, 24 de janeiro de 2010
Aécio diz que, em Minas, vai ‘entregar’ vitória a Serra
Governador só deve decidir em maio se será ou não o vice
Tucanato festeja os palanques do ‘triangulo das Bermudas’
Divulgação
O PSDB está exultante. Celebra a resolução dos problemas que o atormentavam numa região eleitoralmente estratégica: o “triângulo das Bermudas”.
É como os políticos se referem ao pedaço do mapa que concentra os três maiores colégios eleitorais do país: São Paulo, Minas e Rio.
Para Serra, a obtenção de boas votações nessas praças é vital. Uma forma de atenuar a desvantagem que amarga no Nordeste, região onde o prestígio de Lula é maior.
Parte da celebração tucana se deve ao comportamento de Aécio Neves. O governador de Minas fez nos últimos dias declarações que soaram como música.
Eis o que disse Aécio, em privado, na semana passada: “Em Minas, vou entregar a vitória ao Serra”.
A justificativa empresta credibilidade ao comentário de Aécio. Afirma que o triunfo mineiro de Serra interessa a ele próprio.
Por quê? Ouça-se Aécio: “Vou fazer a minha parte porque quero chegar a Brasília forte”. Acha que sua força depende do êxito de Serra e de Antonio Anastasia.
Anastasia é, hoje, vice-governador de Minas. Foi guindado por Aécio à condição de candidato a governador. Frequenta o terceiro lugar nas pesquisas.
De resto, o tucanato enxergou nas manifestações reservadas de Aécio a abertura de uma porta que parecia fechada.
O governador mineiro já não soa peremptório quanto à escolha do cargo que irá disputar em 2010. Ainda pende para o Senado. Porém...
Porém, Aécio já considera a hipótese de se render à pressão que o empurra para a posição de vice na chapa presidencial da oposição.
A julgar pelo que diz entre quatro paredes, Aécio vai prolongar a dúvida quanto ao seu futuro até maio, um mês antes das convenções partidárias.
No cenário esboçado por Aécio, a candidata petista Dilma Rousseff vai tomar o elevador nas pesquisas, encurtando a diferença que ainda a separa de Serra.
Nessa hipótese, imagina Aécio, seu cacife aumenta. Negociaria sua eventual entrada na chapa em condições mais favoráveis que as atuais.
Deve-se outro pedaço da euforia tucana ao detalhamento do acordo que pôs de pé, no Rio, a candidatura de Fernando Gabeira (PV).
Depois de um vaivém incômodo, Gabeira topou disputar o governo do Estado, em aliança com os três partidos que gravitam na órbita de Serra: PSDB, DEM e PPS.
No primeiro turno, Gabeira se dedicará à sua própria candidatura e à de Marina Silva (PV), a presidenciável do PV.
Mas, com um candidato a vice tucano e um postulante ao Senado do DEM, Gabeira abrirá espaço em sua propaganda televisiva para vozes que farão soar no Rio o nome de Serra.
Mais: passando ao segundo turno, como a oposição espera, e confirmando-se o embate nacional PT X PSDB, Gabeira estará à vontade para propagandear a opção por Serra.
Quanto a São Paulo, Estado em que o PSDB exerce a hegemonia política há mais de 16 anos, consolida-se o palanque de Geraldo Alckmin.
Alckmin belisca índices que roçam os 50% nas pesquisas. Embora torcesse o nariz o correligionário, Serra parece agora bem mais afeito à idéia de digeri-lo.
Contribui para atenuar a aversão a Alckmin a erosão da popularidade de Gilberto Kassab (DEM), o aliado que Serra acomodou na prefeitura de São Paulo.
Minado por recentes reajustes de tributos e ilhado pelas enchentes, Kassab arrosta o seu pior momento. Serra, também molhado pelas chuvas, não se livra do contágio.
Trabalha para envernizar sua imagem. Mimetiza a dupla Lula-Dilma, intensificando as inaugurações e vitaminando a publicidade.
Como parte desse esforço, a opção por Alckmin revela-se mais segura. Ainda que imponha a digestão de alguns sapos.
No mais, o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, pretende trabalhar, nas próximas semanas, para pôr de pé os palanques de Serra no Sul.
É uma região em que o tucanato costuma obter boas votações. Em 2006, Alckmin prevaleceu sobre Lula no Sul.
Por ora, soltam-se fogos pelo triângulo. Junto com a Bahia, São Paulo, Minas e Rio concentram quase metade (48,7%) do eleitorado brasileiro.
Vale rememorar os resultados de 2006. Em São Paulo (29,4 milhões de eleitores), Alckmin bateu Lula, no segundo turno: 52,26% a 47,74%.
Em Minas (14,1 milhões de eleitores), Lula prevaleceu sobre Alckmin: 65,19% a 34,81%. Daí a importância do arregaçar de mangas do popular Aécio.
No Rio (11,3 milhões de eleitores), Lula também surrou Alckmin: 69,69% contra 30,31%. Por isso, os fogos pela entrada de Gabeira, terceiro colocado nas pesquisas, no ringue.
A oposição aposta no êxito de Serra no triângulo porque Dilma não é Lula. E a capacidade de o presidente transferir votos parece ser menor nesses Estados.
Dá-se o oposto no Nordeste. Ali, o prestígio de Lula é mais expressivo. Em 2006, beliscou 77,1% dos votos disponíveis na região, contra 22,9% dados a Alckmin.
Ainda que consiga penetrar nos Estados menos desenvolvidos, Serra e seus aliados sabem que os principais lances do jogo sucessório serão jogados no Sudeste, seguido pelo Sul.
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Escrito por Josias de Souza às 05h03
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